Escrito por Almir Saldanha
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27 Junho 2014
O novo equipamento vai colher de quatro a seis linhas ao mesmo
tempo, em vez de uma linha colhida atualmente pelas máquinas no mercado
Fonte: Valor Econômico

colhedora cana 230614
Protótipo de colhedora de cana do CTBE; primeira fase do projeto, com recursos Funtec, demandou R$ 16 milhões
Com recursos de uma linha de financiamento do BNDES que tem
objetivo semelhante ao PAISS, mas com condições diferentes, o
Laboratório de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), com sede em
Campinas (SP), desenvolve um projeto de mecanização do manejo da
cana-de-açúcar com baixo impacto. O projeto, com recursos do Fundo
Tecnológico (BNDES Funtec), demandou investimentos de R$ 16 milhões em
sua primeira fase.
O diretor do CTBE, Carlos Alberto Labate, afirma que a máquina
que está sendo desenvolvida pelo laboratório permite reduzir os níveis
de compactação de solo - o que é prejudicial ao desenvolvimento da raiz
da planta - e aumentar a produtividade na colheita. Normalmente, a
utilização de máquinas faz com que 60% do solo fique compactado. Mas com
o novo sistema, esse percentual poderia ser reduzido para 10% a 13%,
afirma Labate.
A primeira versão do protótipo da máquina chamada de "estrutura
de tráfego controlado" é um veículo de bitola larga, com 9 metros de
largura, em vez do usual 1,5 metro, tração e direção nas quatro rodas,
que trafega sobre faixas que atingem apenas 10% da superfície do solo,
deixando o resto da área (90%) para o desenvolvimento da planta. O
percentual de área trafegada pelas máquinas tradicionais situa-se entre
25% e 60%. O novo equipamento vai colher de quatro a seis linhas ao
mesmo tempo, em vez de uma linha colhida atualmente pelas máquinas no
mercado.
Com o auxílio de GPS, a máquina pode ser utilizada no plantio,
fertilização e colheita da cana-de-açúcar. As colheitadeiras
tradicionais realizam essa atividade com uma perda de matéria-prima de
cerca de 10%, o que representa um prejuízo de cerca R$ 300 milhões
anuais para as usinas, segundo o CTBE. Com o projeto de mecanização de
baixo impacto do CTBE, iniciado em 2010, estima-se que essas perdas
poderão ser reduzidas a 5%, uma economia de R$ 150 milhões por ano.
Todo o processo de colheita de cana-de-açúcar utilizando o novo
equipamento foi realizado a partir de pesquisas de engenharia do CTBE em
parceria com a empresa paulista de máquinas Jacto. No processo
desenvolvido, o pé da cana é cortado pela máquina e puxado para fora do
canavial. Depois, é picado e passa por ventilação para que a palha seja
separada.
A tecnologia usada, uma espécie de "pente", permite um
ordenamento diferente dos colmos (talos da planta) - fazendo com que
fiquem paralelos espontaneamente, o que favorece o corte menos
"agressivo", segundo Oscar Antonio Braunbeck, coordenador da Divisão de
Produção de Biomassa do CTBE. Isso reduziria o impacto negativo na
produtividade das lavouras, explica.
Segundo os pesquisadores, as tecnologias desenvolvidas pelo CTBE
para uso no protótipo poderão permitir a redução em cerca de 15% do
custo de produção de cana no país, estimado atualmente em cerca de R$ 65
por tonelada. A expectativa é que, em cerca de cinco anos, a máquina de
baixo impacto possa estar disponível no mercado.
O CTBE também protocolou, em parceria com cinco empresas,
projetos no PAISS Agrícola do BNDES. De acordo com o laboratório, os
projetos estão relacionados à produção de biocombustíveis e à produção
de compostos de química verde a partir de cana-de-açúcar.
Carine Ferreira e Fabiana Batista