25 Março 2014
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Fonte: Reuters
Por Caroline Stauffer
SÃO PAULO, 25 Mar (Reuters) - O fenômeno climático El Niño pode causar novos problemas para as safras de cana-de-açúcar, café e laranja do Brasil, já prejudicadas pela seca, mas iria criar o clima perfeito para as próximas colheitas de soja e milho.
Os modelos climáticos mostram que as temperaturas da superfície
do oceano Pacífico estão subindo, e é cada vez maior a probabilidade de
isso resultar nos próximos meses no fenômeno El Niño, que ocorreria pela
primeira vez desde 2009.
No passado, o fenômeno trouxe chuva forte em partes da Argentina
e regiões ao sul do Brasil, afetadas pelo clima quente e seco no início
deste ano.
"Seria por volta de junho o início do El Niño, ou pelo menos
temperaturas maiores do que a média em todo o Pacífico equatorial",
disse Franco Villela, meteorologista do Instituto Nacional de
Meteorologia do Brasil (Inmet).
Embora a formação do El Niño não seja uma certeza, as empresas e
os analistas já estão atentos ao seu potencial impacto sobre o Brasil,
uma superpotência agrícola --o maior exportador de açúcar, café e soja.
"Inicialmente era uma possibilidade, mas agora alguns
meteorologistas já estão dizendo que há uma chance de 75 por cento de
que o El Niño possa retornar", disse Stefan Uhlenbrock, analista de
commodities sênior da F.O. Licht, em um evento em São Paulo na
segunda-feira.
Para a área do centro-sul do Brasil, principal produtora de
cana, o clima úmido no final da estação de moagem reduziria o teor de
açúcar na cana, disse ele.
Maior produtora de açúcar e etanol do mundo, a Raízen também
disse na semana passada que a chuva do El Niño seria um risco
significativo para a colheita da cana.
"Para cana, café e citricultura, é o pior cenário possível",
disse o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Somar
Meteorologia, acrescentando que a qualidade, bem como os trabalhos de
colheita seriam afetados.
Ainda assim, chuvas "ininterruptas" provocadas pelo El Niño em
junho ou julho não seriam de todo ruins para a agricultura no Brasil, e
são realmente o ideal para a soja e o milho, disse ele.
Analistas da Thomson Reuters Lanworth em Chicago também
afirmaram que as condições do El Niño, de maior precipitação na
Argentina e em regiões ao sul do Brasil, durante o final da primavera da
América do Sul e o início do verão, "geralmente resultam em
perspectivas favoráveis ??de rendimento para a próxima temporada".
O Brasil está saindo agora do que foi o verão mais quente e mais
seco já registrado no Sudeste, região densamente povoada, o que
provocou o temor de racionamento de água e de energia em um país onde a
maioria da eletricidade vem de hidrelétricas.
A seca provavelmente reduziu em 11 por cento a atual safra de
café, de acordo com uma pesquisa da Reuters com analistas, e eliminou 25
milhões de toneladas de cana-de-açúcar, de acordo com a F.O. Licht.
As condições climáticas devem ser normal ao longo dos próximos
três meses do outono na América do Sul, antes de quaisquer possíveis
efeitos do El Niño, disse Villela. É possível que ocorra geada no Sul no
próximo mês e é esperada precipitação moderada.
"Mesmo com a previsão de chuva normal, não vai ser suficiente para reverter as perdas que vimos durante o verão", disse ele.
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